sábado, 18 de abril de 2009

Caso Escola Base

Em relação ao tema polêmico “sensacionalismo na imprensa” que vínhamos retratando, vamos fechar este assunto com um caso ocorrido em 1994, como um exemplo que mostra as terríveis conseqüências que o jornalismo sensacionalista provoca nos envolvidos, que acabam tendo a vida pública destruída.

Em 2009 fez 15 anos do caso da Escola de Educação Infantil Base, no bairro da Aclimação em São Paulo, que foi denunciada sem provas contra abusos sexuais das crianças que lá freqüentavam.
Foi no dia 28 de março de 1994 que a imprensa iniciou uma série de erros e calúnias contra a escola.

O episódio começou com duas mães, Cléa Parente e Lúcia Eiko, que procuram a polícia com uma denúncia de abuso sexual contra seus filhos de apenas quatro anos, alunos da Escola Base. Segundo as mães, os donos Icushiro e Aparecida Shimada e os sócios Paula e Mauricio Alvarenga promoviam orgias sexuais com a participação de seus filhos.
Isso começou com um caso particular, de uma criança que tinha lesões no ânus, e depois várias mães traumatizadas vieram com casos parecidos para ajudar na denúncia contra a escola.

O delegado que cuidou do caso foi Edélcio Lemos, que, mesmo sem provas concretas contra os acusados, soltou o caso na imprensa e obteve uma revolta pública enorme, comoção semelhante com a do caso Isabella. A escola foi depredada e os rostos dos donos ficaram marcados como molestadores de crianças, tendo que fechar a instituição e se esconder da população. Os acusados chegaram a ser presos.

Apesar da ausência de provas e percebendo a sede dos jornalistas pelo caso, o delegado Edélcio virou celebridade e se aproveitou da situação. De um lado a imprensa, criando um traço sensacionalista para as denúncias de abuso sexual, e de outro Edélcio passava informações sem fundamentos reais. A advogada dos sócios da escola teve acesso ao laudo final do IML, onde as supostas vítimas (as crianças) foram fazer exame de corpo de delito. A vista do laudo aconteceu acidentalmente, uma vez que Edélcio não mostrava para ninguém a pasta do inquérito, documento que seria a prova dos abusos. Porém, os exames mostraram que as lesões no ânus de uma das crianças eram compatíveis com a excreção de fezes ressecadas e, depois se confirmou que realmente era conseqüência de um sério problema intestinal do garoto.
Assim Lemos foi afastado do caso. Os advogados Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho reiniciaram a investigação.

Meses depois os acusados foram inocentados. O inquérito do Caso Escola Base foi arquivado por falta de provas. O delegado concluiu que "se houve crime, este ocorreu em outro lugar e tendo outros personagens".

Em 95, os inocentados moveram uma ação por danos morais contra a Fazenda Pública (Estado). Em 2003 foram processados também por danos morais os veículosFolha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Globo, SBT, Record, Rádio e TV Bandeirantes, revistas Vejae IstoÉ.
O ex-dono da escola teve três enfartes desde 94, fuma muito e tem medo de andar na rua. Atualmente trabalha numa xerox no centro de São Paulo. Sua esposa faz tratamento psicológico desde o episódio. Os outros acusados se mudaram para o interior. Os repórteres que cobriram o caso continuam suas vidas profissionais normalmente. Nenhum veículo foi punido, e nenhuma desculpa foi dada com o mesmo espaço das acusações.

É a partir desses erros que o jornalismo comete que se faz raciocinar as relações éticas da mídia, do compromisso com a verdade e não com a vendagem, de como uma mentira pública pode destruir a integridade das pessoas.

Fonte:http://oglobo.globo.com/sp/mat/2006/11/13/286621871.asp

http://comunicacao.feevale.br/agecom/index.php/Assessoria-em-Jornalismo/caso-escola-base-desrespeito-tica-do-jornalismo.html

Segue abaixo um documentário que contém depoimentos, imagens e reportagens divulgadas na época. Vale a pena ver.


2 comentários:

  1. Fala pessoal do Focalize, tudo bem?
    Impressionante como na nossa (assim esperamos nós) futura profissão acontecem erros primários que com o passar do tempo já deviam ter sido corrigidos, e mesmo assim continuam a ocorrer. E não seria fácil deixarem de ocorrer? É só o profissional manter sua idoneidade e saber informar apenas fatos comprovados, jamais divulgar hipóteses como verdades absolutas.
    Esse caso só prova o quanto o Jornalista tem poder de influência na vida das pessoas. Aí que entra o risco de nos 'acharmos a última bolacha do pacote'...

    Sobre o blog, achamos que vocês podem talvez usarem textos mais curtos, claro que mantendo todo o conteúdo importante, e também usar mais o lado cultural. A idéia da 'FOCA' é muito interessante, e o layout é básico, o que ajuda na compreensão de tudo. É isso!

    Abraços da equipe do 'Lavou, Tá Novo!'.

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